quinta-feira, 4 de março de 2010

De ser mulher

O lugar mais comum do mês de Março é a mulher.
Eu, como tal, como membro do grupo que cruza a porta nomeada de 'ela', se enxuga em toalha rosa e apreende, desde o berço, a arte de segurar bonecas, tenho de me localizar. Quero estar bem neste lugar-comum.

Mulheres de Chico, chicas de chicas, mulheres de Andrés, de Joãos. Mulheres de ninguém, de cães, da rua, da vida, dos muros, dos sonhos, dos livros. Mulheres de uma luta única, de timbre singular. Cada uma com sua cruzada de perna, com sua jornada diária, com um jeito de olhar, de sentir-se bela, notada, anotada, fotografada, sonhada, apagada.

Papel feminino é coisa sempre remontada, tomaram os pedaços do que era ser mulher e saíram colando um a um. Neste movimento de rejunte daquilo que fora fragmentado, destruído e até queimado, surgiu um ser que se move em gestos. Cada papel recolocado fez pensar que pedacinhos do que se é ser mulher precisam ser pensados, retocados, postos em um formato delicado, autêntico, voraz.

No rejunte, perceberam que somos de ter coisas só nossas, tão particulares que fazem pensar que existem mais do que dois gêneros. Ser mulher é coisa tão nossa que quando se fala parece até que homem é uma outra coisa, sem significância tão grande quanto nós. Tendemos a sermos densas, profundas, meticulosas, sagazes e isto tudo tem ganhado valor num tempo que avança incansavelmente em dizer-se o mais consciente e onisciente de todos.

A essência feminina ocupa o topo de uma lógica que olha para a própria espécie e a louva. O papel da mãe mulher é exigido. Os retalhos de papéis lançados aos ventos, soprados em todos os outros tempos, unidos, formam a única salvação para o que o trajeto tortuoso criou. O fim só se salva pelo o que é capaz de gerar um bom começo. Mulher, mãe, seu jeito de sentir.
O louvor deste mês vai para o feminino, à fertilidade, à força emocional, à composição de ser mulher.

Um comentário:

  1. 'Apreender' no sentido de tomar pra si, com um certo sentimento de posse, mesmo.

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