segunda-feira, 11 de julho de 2011

Desaviso

Fátima deixou na porta de sua casa um papel afixado com goma de mascar adoçada com aspartame. Seu hálito precisava de recursos como estes para não espantar as expressões dos rostos que encontravam bem de frente com o seu. Fatinha bem queria saber porque sua boca tinha aquele fedor de boca de esgoto. Ela assimilava isto com estas mesmas palavras. Via nisto uma possibilidade de atrever-se ao dilema de sua vida, sua boca odorenta.

A moça de olhos castanhos, de cabelos castanhos, de pele de uma cor que a borrava aos olhos de muitos, importava-se, sinceramente, muito pouco com os odores de suas gofadas. Não sabia de nenhuma vantagem naquilo, mas não parava para medir as desvantagens que poderiam lhe parecer absurdas.

Toda a questão para ela não girava em torno de nada, era aquilo e pronto. Chicletes, dentes e novos cheiros. Nada além. Na manhã da porta da casa, do papel escrito a lápis, preso por 'chiclete' branco sem gosto de nada, ela desavisou que não chegaria para dormir. Despreocupada, Fátima não informou para onde iria, contudo conseguiu a dizer que algo muito novo acontecia e que mesmo assim ninguém precisava alarmar-se. "Hoje, dormirei na casa da amiga Dora". Ninguém conhecia Dora.

A goma de mascar imprimiu nos lábios o primeiro movimento. Eles não souberam o que fazer diante de tanta saliva, de tanta vontade. Isto acaba mesmo com corpos nus.

O desaviso funcionara, Fátima vivia aquilo que lhe parecia agradável. E não havia quem se importasse com seus sumiços, com seus desavisos. Fátima fora curada de um mal que não sofria, o qual não lhe avisaram existir, pela marca de chicletes sem açúcar.