sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Desaglutinada

Comportamento é o ato de demonstrar que algo lhe comporta.
Sua alma cabe dentro de um corpo que reage aos estímulos de forma peculiar, Mesmo tendo que ser igual.
Eis seu comportamento, você mostrando que vive em algo fácil de ser lido, um recipiente que pré-diz seus atos, que torna seus gestos algo comum aos outros do mesmo espaço, do mesmo tempo.
Você comunga com eles idéias, gestos, bobagens, comida, corpos e sua passagem por uma vida estranha.

Um temperamental é quem teve o que o comporta enfisemado. Encheu-se de bolhas de ar que danificam sua operacionalidade, sua respiração.
Um susceptível é quem cabe em todo lugar, qualquer buraco o comporta.
Um relaxado é quem parece caber nos cubículos mais espaçosos, mas na verdade só cabe num cubo, um cubículo desvairado e ventilado.

Eu sou quase enfisemada, cabendo em alguns outros lugares e gosto do cubo ventilado.
Meu recipiente é uma esfera que quica.

Uma delícia o desvario.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pra

Interliga-se sujeitos com artigos,
predicativos com preposições,
sons com silêncios,
paz com pavor, com vapor.
suposições com meias-verdades com supostas
conectivos são cognitivos, tudo o mais o é.

Godard me diz que o que é internalizado importa mais que o externo,
eu sou intimista, gosto de quem é,

intimidade de mim é saber que sou chegada a intimidades,
a credulidades sem credo,
a ritos de passageiros entoando cantarolices bobas
a silêncios íntimos,

caduquice mata-me de medo,
meto medo na sanidade
beiro a um ataque de nervos
só quando,
quase quando, quase nunca
tiram-me a paz
e eu fico vendo
que sou ilha do que está quase parado
apavoro-me com esta pressa
fico parada
querendo sair do canto
e não vai

odeio janeiro
com toda a força da alegria dos outros 11 meses
adoro ver a banda passar
e fico aflita com o que vem depois
mas me conformo
conformizo
relativizo
até ver que do canto tenho que sair,
que de canto ninguém vive pela manhã,
eu adoro as manhãs e pegar 10 minutos de Sol
animam o corpo

Vou para o meio,
encontro todos que não estiverem de canto nem atrás da porta.
Aqui também tem janelas.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ode

Funesto, de tão lento e arrogante

Pesado, parado, prejudicial

Pouco caso, para quase tudo,

Quase nada, querendo ser tudo

E era só uma gente, uma delas,



Empatando as entradas, as saídas

Dando nó.


Era meio caminho andado, pra nada andar

Meia palha seca, sem puder se queimar


O resto verde, separarei do seco e direi que deve estar vivo,

Estará


Até a palha desabar.


Coqueiro é coisa boa pra se gostar

Pensar que cada aba de seu troco foi folha

É pensar que nada passa à toa,

Tudo é destas coisas que ficam,

mesmo indo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Colando memórias

-De tudo que sou, de toda a minha vida
-Adorarei
-o Verbo

-está no céu, está mar, na extensão do infinito

-Ó verbo
-sopra sobre o que mim está morto

Pronto:
-Ressuscitou.

Palavrear é para todos e para várias direções.

Luz e meia

A meia-luz os contornos se sensualizam,
as saídas ficam escuras,
o retorno é coisa não vista,
lençol branco fica amarelo-sombra,
a linha preta que separa qualquer coisa do ar, vira ar,

falta ar,
sobra água,

(suspiro)

Tocaram-se e fizeram de sua meia vontade
o que uma vontade inteira poderia causar,

Mas a ternura também cansa.