sábado, 29 de janeiro de 2011

gestual

No lugar onde vivi por muitos anos, tudo, pra se tornar ação, precisava fazer algum sentido. Caso não se cumprisse a prerrogativa, algo muito grave poderia acontecer com aquele que agia. O que acontecia, na verdade, era que esta era uma crença e ninguém sabia ao certo se descumprí-la implicava em qualquer sanção das partes divinas.

O tempo passou muito até que um belo rapaz ameaçou os sentidos de todas os gestos. Ele veio sem sentido parar ali. Era vivo como todos os outros, mas alegava que não sabia ao certo como chegara no vilarejo. Sua primeira ameaça, um anúncio de importunação a uma suposta ordem do lugar.

O rapaz percebeu que a ficção daqueles vivos era diária e que o que se dizia era para dar uma aparência qualquer ao que se vivia. Os parentes, quando se viam, perguntavam um ao outro dos sentidos dos atos, era a forma de se dizer como tudo deveria aparentar. Os encontros eram aulas de conduta. Mas a prática era somente aquilo de todas as manhãs até os finais do dia, somando-se ao sono das madrugadas, era aquilo de fazer tudo para que alguma coisa fosse feita no final.

Jovem como um cacho de bananas verde, o rapaz, não entendia nada daquilo, viera de um lugar onde as coisas são grandes e nada fazia sentido. Ele me contou certa vez, que nas ruas as pessoas são muitas, em seu lugar, e elas são desconhecidas e vivem, vivem cheias de intuitos. Elas agem, crescem, reproduzem-se e morrem como se pudessem ter sentido, elas são enterradas mortas, pensam purificar-se depois de cometerem alguns delírios e agem somente quando podem, sabendo inteiramente a razão de cada coisa. Por saberem demais, descobriram que quase nada faz sentido. Muitas delas acham-se desprecisadas de finalidade, outras morrem-se por acharem que desprecisam da vida. Fui daqui para lá e não sei, não sei mais de nada.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Botton

A vontade de produzir um tecido bonito para ornar uma pele que anda meio sem brilho veio com um fim de tarde meio cinza, metade azul
Tomei vários resumos de idéias, umas conclusões trágico-cómicas daquelas que tenho em minhas trajetórias diárias de lido familiar.
Percebi alguma coisa antiga, das mesmas que vivo percebendo
Lembrei-me de algumas ruas cariocas e aquele meu tipo de solidão feliz desacostumada com o piso de outro ar.
A impressão é que os círculos que fiz eram pequenos e constantes, andava em círculos pequenos.
Estava presa a umas duas ideias que me faziam estar no chão e estar circulando.
Ainda havia tempo, antes que inventassem as cordas das pernas e das mãos, eu ainda poderia me fazer desamarrada. Era só um pouco de força, um pouco de água, um médio de paciência, algumas conclusões de adeus. E?
Já poderia produzir um novo conjunto de impressões. Ao menos teria logo em breve minha alma lavada e um ornamento novo para me enfeitar.