domingo, 15 de março de 2009

O meu coco da infância:

Eu tinha apenas quase cinco anos quando descobri o quanto era bom se importar com algo que tendesse a uma personificação. Ou, como era bom cuidar de alguém, de algo.

Nessa infância, de grande quintal carregado de pulgas, tínhamos dois coqueiros que acenavam dia-a-dia suas palhas e sua altura a nós, família, que habitava a casa de número 20.

O jardim era das cadelas, o quintal, das galinhas, os dois eram dos coqueiros e a casa era da gente, no entanto para brincadeira até os muros serviam, o trás muro também assim como a rua fácil de acessar. Além de tudo, o limite do céu era por nós corrompido, na árvore driblávamos a gravidade e enganávamos aquele que inventaram para prender crianças na terra. Nem lembrávamos que aquele bairro, no qual a casa se situava, nunca deixou de ser perigoso. O perigo só ronda aqueles que lembram dele. Não tínhamos medo de quase nada.

O maior dos meus medos era o de ficar sem ter um motivo pra acordar. Lembro. Daí que surgiu a vontade de ajudar uma coisa a ser gerada. Eu escolhi no meio do delírio infantil, que delira a ação por não saber dos processos, algo que me fizesse sentir a vida permanecer. Talvez o meu maior medo fosse o da morte.

Acabei escolhendo um côco para criar.

Era um coco bem pequeno, que por não fazer sentido pra mim ele ter ido ao chão com tão pouco tamanho, acabou sendo por mim adotado.

Eu, todo dia, acordava pensando no coco, conferia se o coquinho estava bem acomodado. Acreditando que o calor faria crescer, envolvia-o numa camisa velha.

Isto tudo durou até o dia em que eu fui alertada pelas meninas que aquilo nunca daria certo.
Foi então que eu peguei o coco com a firmeza de quem acabara de aprender qual o lugar dele e joguei lá perto do muro, mais pra perto da árvore. Daí então, em alguns daqueles dias posteriores a saída do coco do seu ninho, eu sempre lembrava de fitar aquele filho por alguns instantes mais.

Isto ocorreu até o dia que outra coisa passou a me interessar mais, que outro brinquedo, que não é brinquedo, tomou formas de me mover.

E sem coco continuei, mas não me desfiz dos mistérios que são bons de descobrir.

Um comentário:

  1. Uma releitura deste, faz com que eu lembre de pelo menos 2 outros tempos...

    eu nunca me cansarei dos mistérios (bons de descobrir), mas como aconteceu com o querido coco, uma hora descubro os processos, daí o delírio da ação torna-se diluído. Arresso...

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